O avanço do processo que investiga Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal já desenha um cenário quase irreversível para o ex-presidente. Com depoimentos contundentes de ex-comandantes das Forças Armadas e a condução acelerada do inquérito, cresce a expectativa de que Bolsonaro será condenado e preso ainda em 2025. A possível prisão de Bolsonaro não apenas sela seu destino jurídico como também transforma o xadrez político da direita brasileira para as eleições de 2026. Muitos setores mais pragmáticos da direita veem sua eventual saída de cena como uma oportunidade para reorganizar o campo conservador com nomes mais palatáveis ao centro.
A expectativa pela prisão de Bolsonaro é vista por parte de seus próprios aliados como uma chance de romper com a dependência quase total da figura do ex-presidente na definição de candidaturas. Embora ainda mantenha uma base fiel e poderosa nas redes sociais, Bolsonaro se tornou um entrave para a construção de uma candidatura competitiva capaz de conquistar eleitores fora do núcleo bolsonarista. A direita que mira o poder em 2026 entende que será necessário apresentar ao eleitorado uma alternativa menos radical, que dialogue com o centro político e reduza a taxa de rejeição associada ao bolsonarismo.
Dentro do campo conservador, há um esforço crescente para construir essa nova candidatura, mas a presença de Bolsonaro impõe barreiras. Ele continua interferindo diretamente nas articulações políticas, fazendo exigências de lealdade absoluta e desencorajando qualquer tentativa de emancipação política por parte de figuras que até então orbitavam sua liderança. Essa interferência constante impede o florescimento de nomes como Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, que é visto por muitos como uma opção viável, mas ainda refém do “fogo amigo” bolsonarista.
A prisão de Bolsonaro poderia representar uma virada nessa lógica de dependência. Sem a possibilidade de se manifestar livremente e de utilizar sua influência digital como arma política, o ex-presidente perderia grande parte de seu poder de veto dentro da direita. Isso permitiria que lideranças pragmáticas ganhassem espaço e que o debate sobre o futuro do campo conservador fosse conduzido de maneira mais racional. A ausência de Bolsonaro das articulações e campanhas pode facilitar a construção de uma candidatura mais ampla e competitiva.
Os sinais de que a prisão de Bolsonaro é iminente se multiplicam. A tentativa de obstrução com a nomeação de Alexandre Ramagem foi frustrada pelo STF, e o projeto de anistia ampla perdeu força tanto no Congresso quanto no Judiciário. Com o avanço dos depoimentos e as evidências de reuniões com teor golpista, não há mais margem para reversão do processo. A própria família Bolsonaro parece reconhecer que a condenação é apenas uma questão de tempo, e especula-se que isso ocorra até novembro de 2025.
Para setores que defendem um novo projeto de poder conservador, a prisão de Bolsonaro pode ser estratégica. Quanto mais cedo ela acontecer, mais tempo haverá para consolidar um novo nome e trabalhar sua imagem junto ao eleitorado. Isso poderia reduzir o impacto da rejeição herdada do bolsonarismo radical e abrir espaço para um discurso mais moderado, voltado para a reconstrução de pontes com o centro político e setores do empresariado que hoje demonstram preocupação com a instabilidade institucional.
Tarcísio de Freitas desponta como um nome promissor nesse novo cenário, especialmente por sua gestão focada e capacidade de diálogo com o mercado. No entanto, sua viabilidade eleitoral fora do eixo Sudeste ainda é um desafio. O Nordeste, por exemplo, continua sendo uma barreira significativa, e um trabalho intenso de imagem será necessário para que ele se torne uma alternativa viável em escala nacional. A prisão de Bolsonaro poderia libertá-lo da sombra do ex-presidente, permitindo que ele desse passos mais firmes rumo a uma candidatura própria.
A condenação de Jair Bolsonaro, portanto, não representa apenas o fim de um ciclo político, mas pode significar o início de uma nova fase para a direita brasileira. Ao reduzir a influência de uma liderança polarizadora, abre-se a possibilidade de reorganização interna, lançamento de novos nomes e reconstrução de uma base eleitoral mais ampla e menos radicalizada. Esse redesenho pode ser crucial para definir o embate contra Lula ou seu sucessor em 2026. A direita sabe disso e, por isso, cada vez mais torce para que a prisão venha logo.
Autor: Xerith Estrope