O ex-presidente Jair Bolsonaro prestou depoimento no Supremo Tribunal Federal em uma audiência que pode ser decisiva para sua defesa no processo relacionado à trama golpista. Durante o interrogatório, Bolsonaro admitiu ter considerado a possibilidade de decretar estado de sítio após o Tribunal Superior Eleitoral rejeitar o pedido de anulação dos votos do segundo turno das eleições de 2022. O ex-presidente afirmou que a medida foi cogitada diante da impossibilidade de recorrer da decisão do TSE, mas que nada foi formalmente assinado nem implementado.
No depoimento, Bolsonaro também reafirmou sua convicção sobre fraudes nas urnas eletrônicas, justificando os ataques públicos ao sistema eleitoral que marcam sua trajetória política pós-2022. Ele destacou que sem essas dúvidas a investigação não estaria em curso, mantendo a narrativa que fundamenta sua defesa. O ex-presidente negou ter liderado qualquer tentativa de golpe de Estado, alegando que suas ações sempre estiveram dentro dos limites da Constituição.
Outro ponto destacado por Bolsonaro foi a reunião realizada em dezembro de 2022 com os comandantes das Forças Armadas. O ex-presidente explicou que apresentou sugestões, mas que não ultrapassou os limites legais, jogando “dentro das quatro linhas” o tempo todo. Bolsonaro também negou ter recebido ou alterado a minuta mencionada por um ex-assessor militar, que o implicou na organização do suposto plano golpista, mantendo sua versão de que todas as discussões ocorreram de forma constitucional.
Bolsonaro admitiu que estudou alternativas legais para enfrentar a rejeição do pedido de anulação das eleições pelo TSE, incluindo a decretação de estado de sítio, mas ressaltou que tal medida exige um fato concreto e a convocação dos conselhos de Defesa e da República, o que não ocorreu. A cogitação, segundo ele, foi uma tentativa de buscar amparo na Constituição diante de um cenário considerado adverso, sem qualquer ação concreta que extrapolasse o poder executivo.
No âmbito do interrogatório, o ex-presidente respondeu também sobre a reunião com embaixadores estrangeiros, realizada em julho de 2022, onde teria disseminado dúvidas sobre o sistema eleitoral. Bolsonaro defendeu que essa reunião faz parte das prerrogativas do chefe do Executivo, admitindo que possa ter exagerado na forma, mas mantendo a crítica às urnas eletrônicas, o que acabou resultando em sua inelegibilidade até 2030 por decisão do TSE.
Ao comentar sobre os protestos golpistas ocorridos em Brasília em janeiro de 2023, Bolsonaro negou qualquer envolvimento direto ou liderança, afirmando que os manifestantes não tinham uma coordenação clara e que os eventos configuraram uma baderna, e não uma tentativa de golpe. Ele alegou que optou por não dispersar os acampamentos para evitar um confronto maior, reforçando a narrativa de que não teve participação nos atos de invasão dos prédios públicos.
Durante o depoimento, Bolsonaro insistiu na tese de fraudes eleitorais e criticou as urnas eletrônicas, mas foi contestado pelo ministro Alexandre de Moraes, que ressaltou que não há dúvidas sobre a segurança do sistema eletrônico e que o processo não tem relação com a confiabilidade das urnas. Apesar disso, o ex-presidente manteve sua versão, citando outras figuras políticas que, segundo ele, compartilham essa visão.
Por fim, o interrogatório no STF destacou pontos que podem complicar a defesa de Bolsonaro, sobretudo a admissão da cogitação de estado de sítio como alternativa diante da rejeição do recurso eleitoral. O ex-presidente ainda enfrenta acusações de articular uma tentativa de golpe após a derrota em 2022, enquanto tenta convencer a Justiça de que suas ações foram legítimas e constitucionais, um debate que promete se estender nos próximos meses.
Autor: Xerith Estrope