Nikolas Ferreira (PL), de 27 anos, sem especialidade na área, preside a Comissão de Educação na Câmara dos Deputados. As principais pautas defendidas pelo deputado são: uma suposta “doutrinação ideológica” nas escolas e universidades, a perseguição contra pessoas transexuais e a crítica à defesa da diversidade de gênero e religião. Ao invés de discutir pautas relativas à educação brasileira, na última quarta-feira, 27, a sessão foi destinada para atacar um professor da educação básica da cidade de São Bonifácio, em Santa Catarina, que teria feito críticas a Jair Bolsonaro em sala de aula. A oposição ao governo, no entanto, teve sua proposta derrotada durante votação por 20 votos a 13.
Aliados fiéis ao ex-presidente, Nikolas e Gustavo Gayer (PL) defenderam uma ideologização na educação brasileira. O requerimento de Gayer sustentava que as falas do professor denunciado demonstram “um claro viés ideológico que não condiz com a neutralidade exigida pela profissão”. Além do mais, o bolsonarista pediu uma retratação pública do professor, “reconhecendo o erro de sua conduta e reafirmando o compromisso com a imparcialidade e o respeito no ambiente educacional”.
Como já feito em outras ocasiões, o deputado mais uma vez atacou a categoria. “Se tem uma pauta aqui nessa comissão que é de assunto nacional é a frequência com que militantes travestidos de professores contribuem para a corrosão do sistema de educação brasileiros”. Tarcísio Motta (PSOL) disse que a extrema-direita faz da comissão um palanque eleitoral e busca dividendos políticos. “Há pessoas que gostam de pegar detalhes, elementos a vigiar na vida de cada profissional de educação e tentam criar um pânico moral. Ninguém é professor porque sonha em ser milionário, mas é para ajudar a construir um mundo melhor”, disse Motta.
Após ter seu requerimento rejeitado, Gustavo Gayer chegou a bater na mesa. Um deputado perguntou se o filho dele já teria sido doutrinado ideologicamente ou agredido em sala de aula e ele reagiu nervoso. “Meus filhos já foram agredidos verbalmente em sala de aula por militantes da esquerda”, disse, batendo na mesa.
Tido como um suposto inimigo da educação, Gayer já foi alvo de denúncia por parte do Sindicato dos Professores de Goiás (Sinpro). Em 2022, antes de assumir o mandato de deputado federal, o influenciador bolsonarista desencadeou a demissão do professor Osvaldo Machado, que lecionava sociologia no Colégio Visão. Isso ocorreu após a utilização de uma charge em uma prova de recuperação, que, segundo o professor, era uma prática comum há anos.
O cartunista André Dahmer, conhecido por suas ilustrações em importantes veículos de comunicação e em provas de concursos, incluindo o ENEM, contatou Osvaldo e comentou sobre o que ele chamou de “empoderamento da burrice” no Brasil. Pressionado pela militância bolsonarista, o Colégio Visão optou por demitir o professor. O caso gerou críticas de instituições federais e de alunos, que clamaram pela readmissão de Osvaldo.
Para os bolsonaristas, o problema da educação no Brasil não é o enorme déficit educacional, tanto de alunos e professores, o sucateamento, a falta de investimento ou o alto índice de analfabetismo. Para a extrema-direita brasileira, o principal problema é um suposto “viés ideológico” dos professores.
Comissão da Educação
O novo presidente da comissão anunciou que dará prioridade a pautas desafiadoras para o governo federal, como o ensino domiciliar (homeschooling) e o Plano Nacional de Educação (PNE), criticado por bancadas como a do agronegócio e a evangélica no Congresso no início do ano. Ferreira adiantou, por meio das redes sociais, alguns dos temas “importantes e complexos” que serão abordados durante sua gestão na comissão.
Ele destacou a realização de audiências públicas, criação de subcomissões e fiscalização do PNE do governo atual. Entre as questões contestadas pelas bancadas estão a proposta de desmilitarização das escolas, a crítica ao homeschooling, o movimento Escola Sem Partido e políticas consideradas ultraconservadoras. Os deputados elaboraram uma nota antes da Conferência Nacional de Educação (Conae), em janeiro, na qual criticaram também a promoção da diversidade de gênero e religião, bem como debates sobre questões LGBTQIA+ e ambientais.
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) classificou o homeschooling como “racista”, argumentando que teria sido criado nos Estados Unidos para separar os filhos brancos das escolas frequentadas por negros. Durante o encerramento da Conae no final de janeiro, Lula criticou Bolsonaro, acusando-o de ser contra o ensino público ao promover as escolas cívico militares e tentar viabilizar o homeschooling.