Personagem popular e polêmico, Piñera liderou o país em tempos difíceis, passando pelas grandes manifestações de 2019 e pela pandemia de covid-19.
Ele também foi um empresário habilidoso, destacando-se com uma das maiores fortunas do Chile, com um patrimônio próximo a US$ 3 bilhões (mais de R$ 14 bilhões).
Ele foi o principal acionista da companhia aérea Lan Chile (atual Latam, após fusão com a brasileira Tam), do canal de televisão Chilevisión e da Blanco y Negro, empresa que administra um dos clubes de futebol mais populares do país, o Colo-Colo.
Sua morte repentina em um acidente de helicóptero deixou o Chile em choque.
Uma delas foi a ex-presidente Michelle Bachelet, contra quem Piñera disputou e a presidência em 2005 e saiu derrotado.
“Sempre valorizei o seu compromisso com o nosso país e a democracia”, disse Bachelet.
Sebastián Piñera nasceu em Santiago do Chile em 1949.
Ele foi o terceiro dos seis filhos de Magdalena Echenique e José Piñera Carvallo.
O pai era funcionário público e afiliado ao Partido Democrata Cristão, de centro-esquerda. José Piñera foi também diplomata e embaixador.
O ex-presidente, que era engenheiro comercial e doutor em economia pela Universidade de Harvard, não seguiu os passos do pai e preferiu mover-se para a direita.
Porém, no plebiscito de 5 de outubro de 1988, Sebastián Piñera expressou publicamente seu voto pelo “Não”, que pôs fim ao regime de Augusto Pinochet.
Isto o colocou em uma direita distante da figura de Pinochet.
Em 1989, Piñera foi eleito senador pela área de Santiago Oriente para o período entre 1990 e 1998, e juntou-se às fileiras da Renovação Nacional (RN), um partido de direita chileno.
Sua popularidade cresceu. No final da década de 1990, ele já era um líder político reconhecido e valorizado pelos pares — e inclusive foi presidente do RN entre 2001 e 2004.
Sebastián Piñera (na foto, à direita) em encontro com o então senador norte-americano Ted Kennedy e o então presidente do Senado chileno Gabriel Valdés na década de 1990, quando era senador
Piñera foi candidato à presidência pela primeira vez em 2005, quando foi derrotado por Michelle Bachelet no segundo turno.
Mas ele concorreu novamente em 2009 e derrotou o ex-presidente Eduardo Frei Ruiz-Tagle, tornando-se o primeiro presidente de direita a ser eleito democraticamente desde 1958.
O empresário foi casado desde 1973 com Cecilia Morel, com quem teve quatro filhos
O primeiro governo Piñera começou no meio de uma crise profunda desencadeada pelo terremoto e tsunami que atingiram o país em fevereiro de 2010, poucos dias antes de ele assumir o cargo de presidente.
Por este primeiro período na presidência, ele também é reconhecido pelo crescimento econômico que o país viveu e pela geração de empregos.
Além disso, ele é lembrado por seus esforços no resgate dos 33 mineiros que passaram 69 dias presos embaixo da terra.
Mas ele teve momentos difíceis durante manifestações estudantis.
Ao dizer frases polêmicas como “a educação é um bem de consumo”, Piñera recebeu críticas e rejeição por parte de líderes nas universidades.
Ele também ouvia constantemente perguntas sobre seu passado empresarial e descrições de seu temperamento como controlador e obsessivo.
O gosto pela improvisação nos discursos o levou a cometer erros e a fazer comentários infelizes que seus opositores chamavam de “piñericosas”. Até hoje, essas declarações vinham gerando memes no Chile.
Ao final do primeiro mandato, Piñera não conseguiu fazer um sucessor. Michelle Bachelet, do Partido Socialista, voltou a liderar o país por mais quatro anos.
Nesse período, o ex-presidente de direita criou a sua fundação, Avanza Chile, a partir da qual moldou a sua segunda candidatura presidencial, que assumiu em 2017.
Embora não fosse exatamente popular na época, Piñera conseguiu se conectar com aqueles que pediam mais crescimento econômico e explorou os bons números de seu mandato.
Piñera teve uma vitória contundente, com uma confortável vantagem sobre o candidato de centro-esquerda, Alejandro Guillier.
“Sou o presidente da mudança, do progresso e da classe média”, disse no discurso após a vitória.
No seu segundo ano no cargo, em outubro de 2019, enfrentou uma onda massiva de protestos exigindo maior igualdade de oportunidades.
Diante da fúria dos manifestantes — e da violência nas ruas —, Piñera mobilizou os militares na tentativa de controlar a situação.
Em plena crise, pronunciou frases polêmicas que se voltaram contra ele, como “estamos em guerra contra um inimigo poderoso e implacável”.
Para tentar diminuir a tensão, Piñera pediu a renúncia de todo o seu gabinete, pediu “perdão” pela “falta de visão” e assinou, junto com outros líderes políticos, a convocatória para uma Assembleia Constituinte que teria a tarefa de redigir uma nova Carta Magna — tarefa que ainda está estagnada.
Em entrevista realizada em novembro de 2019, o então presidente descartou uma renúncia e disse que “é claro” que chegaria “ao fim do mandato”.
Mas quando os protestos começaram a diminuir, o então presidente teve que enfrentar outro desafio: a pandemia de covid-19.
Embora no início Piñera tenha sido questionado diversas vezes sobre sua conduta na situação, depois o Chile foi reconhecido como um país-modelo na gestão da crise sanitária.
No entanto, sua popularidade não conseguiu se recuperar e Piñera encerrou seu segundo mandato com mais de 60% de desaprovação.
Depois de deixar o governo, Piñera instalou-se em seus antigos escritórios e começou a desenvolver projetos filantrópicos por meio de suas fundações.
Nas últimas entrevistas que deu, criticou o seu setor político por não ter chegado a um acordo para uma nova Constituição. Ele também garantiu que não tinha intenção de concorrer à presidência pela terceira vez.
Para pessoas próximas, ele disse que estava gostando de curtir os filhos, os netos e a calma pós-presidência.