O passe livre no transporte público, tradicionalmente associado à esquerda, está ganhando espaço entre partidos de direita e centro no Brasil. A medida, já implementada em 135 cidades, reflete uma demanda crescente por políticas inclusivas. Este tema, que antes era mais comum em propostas de partidos como PSOL e PT, agora aparece em plataformas de partidos de direita e centro, como PL, Republicanos, MDB, PSDB e PSD.
Um levantamento do projeto Vota Aí, em parceria com a Unicamp e a Uerj, revelou que o interesse por passe livre aumentou significativamente desde as últimas eleições municipais. Em 2020, a maioria das menções ao tema vinha de candidatos de esquerda. No entanto, em 2024, partidos de direita e centro também passaram a incluir a proposta em suas plataformas, refletindo um interesse mais amplo.
A professora Argelina Figueiredo, da Uerj, explica que o interesse de partidos de direita e centro é um reflexo do sucesso de experiências anteriores e da crescente demanda da população por políticas que beneficiem os trabalhadores. Ela destaca que, nas cidades, os mais pobres costumam morar longe dos centros e gastam uma parte significativa de seu orçamento com transporte.
O passe livre, no entanto, ainda é um tema controverso. Segundo a Associação Nacional de Empresas de Transportes Urbanos (NTU), a tarifa zero é mais comum em cidades menores, com menos de 50 mil habitantes, onde a operação do transporte é mais simples. Em grandes cidades, como São Paulo e Belo Horizonte, a implementação enfrenta desafios financeiros e políticos.
Em São Paulo, por exemplo, a introdução do passe livre pelo prefeito Ricardo Nunes gerou críticas de oportunismo político. A medida, que inclui gratuidade nos ônibus aos domingos e feriados, foi vista por alguns como um aumento desproporcional de gastos públicos. Críticos argumentam que os recursos poderiam ser melhor utilizados em outras áreas, como saúde e educação.
Em Maceió, o prefeito João Henrique Caldas implementou o “Domingo é livre”, permitindo acesso gratuito ao transporte público aos domingos. A medida é parte de um esforço para atender às necessidades da população e melhorar a mobilidade urbana.
Maricá, no Rio de Janeiro, é frequentemente citada como um exemplo de sucesso na implementação do passe livre. A cidade utiliza receitas de royalties do petróleo para financiar a gratuidade no transporte, que inclui ônibus e bicicletas compartilhadas. Especialistas sugerem que, em cidades com orçamentos apertados, novas fontes de financiamento, como taxação de transportes individuais, podem ser necessárias para viabilizar o passe livre.