Nos últimos anos, o cenário político brasileiro tem revelado um padrão preocupante: a seletividade moral diante de acontecimentos internacionais. Quando atos de violência são cometidos por grupos alinhados ideologicamente a certos partidos, a reação costuma ser hesitante, cheia de justificativas e silêncios calculados. Esse comportamento demonstra como a coerência ética se torna refém da conveniência política. A incapacidade de condenar com firmeza certos episódios mostra que o discurso humanitário é muitas vezes moldado de acordo com o público que se deseja agradar.
Essa dificuldade em se posicionar claramente frente a eventos de terror expõe contradições profundas dentro de partidos que se autoproclamam defensores dos direitos humanos. A seletividade no repúdio revela uma visão distorcida de justiça, onde a violência é tolerada ou relativizada dependendo de quem a pratica. Essa postura fragiliza a credibilidade e mostra que princípios universais acabam sendo adaptados à conveniência de cada momento político, o que compromete qualquer pretensão de coerência ética.
O problema se agrava quando líderes partidários utilizam discursos ambíguos para se esquivar de uma posição moral clara. Em vez de condenar a barbárie, preferem relativizar, buscar contextos, ou transferir responsabilidades. Essa estratégia, embora politicamente conveniente, é devastadora para a imagem pública. Ela gera desconfiança, pois o eleitor percebe quando a defesa da paz e da democracia é apenas retórica. O silêncio, nesses casos, fala mais alto do que qualquer pronunciamento.
Além do impacto moral, essa hesitação tem consequências diplomáticas e sociais. O Brasil, que sempre buscou uma imagem de equilíbrio e diálogo no cenário internacional, vê sua reputação comprometida quando seus líderes demonstram ambiguidade diante de atrocidades. O país perde autoridade moral para mediar conflitos e se distancia de valores universais como a liberdade e a dignidade humana. A omissão institucional passa a ser vista como conivência e fragiliza o papel do país em debates globais.
No campo interno, a falta de posicionamento também tem reflexos diretos na percepção pública. Eleitores que antes acreditavam em um projeto pautado na justiça e na solidariedade começam a se sentir traídos. A ausência de condenação explícita a atos de terror mina a confiança nas lideranças e expõe fissuras dentro da própria base política. Muitos militantes e simpatizantes se veem forçados a justificar o injustificável, criando uma espiral de contradições que afeta toda a estrutura partidária.
Outro ponto relevante é o impacto desse comportamento nas narrativas políticas e na imprensa. Quando um partido relativiza a violência, abre espaço para que adversários ocupem o discurso da moralidade. A oposição ganha terreno ao se apresentar como mais coerente e firme, enquanto a base governista se perde em explicações contraditórias. O debate público, em vez de se elevar, se torna uma disputa de hipocrisias, onde a verdade é substituída por versões convenientes.
A incapacidade de condenar de forma inequívoca atos motivados por fanatismo ideológico também evidencia uma crise de valores mais ampla. A política, quando dominada pela lógica da conveniência, perde sua essência transformadora. Ao relativizar o mal, um partido perde sua identidade e abre mão da autoridade moral que um dia o tornou referência. Nenhum projeto de poder pode se sustentar quando a ética é usada apenas como ferramenta de retórica.
Em tempos de polarização e desinformação, o silêncio diante da barbárie é mais perigoso do que o erro. Uma liderança política tem o dever de se posicionar sem ambiguidade quando vidas são destruídas por ódio ou intolerância. Não se trata de escolher lados, mas de reafirmar valores universais que sustentam a civilização. Quando o discurso vacila, a confiança desaparece, e o que sobra é a percepção de que o poder vale mais do que a verdade.
Autor: Xerith Estrope

